A História de "Danças Sacra e Profana" do compositor Debussy





Danças Sacra e Profana de Debussy


A Obra Musical Danças Sacra e Profana foram encomendados ao compositor francês Claude Debussy pela Casa Pleyel que tinha a intenção de promover a sua nova harpa cromática, tocada pela primeira vez em 6 de novembro de 1904 pela harpista Madame Wurmster-Delcourt. 

As Danças escritas para harpa cromática com acompanhamento de orquestra de cordas, eram dedicadas a Gustave Lyon, o inventor da harpa cromática de Pleyel. Anos depois foram adaptadas para harpa de pedais em 1910 pela harpista francesa Henriette Reniè. A Sacra, primeira parte, é composta em estilo dórico com ritmo ternário, no tom de ré menor; a Dança Profana, segunda parte, está  no modo lídio em ritmo ternário, no tom de Ré maior.


        Gustave Lyon (1857-1936), palestrando sobre algumas de suas invenções


Os cursos de harpa cromática no Conservatório de Paris começaram em outubro de 1904. Em novembro, como uma celebração deste grande evento, Gustave Lyon e Madame Gavaert encomendaram uma composição para harpa cromática e orquestra de Claude Debussy. A obra devia estar pronta para a primavera-verão, pois estava destinada a ser apresentada no concurso realizado no final do ano em Bruxelas.

Ao escolher Claude Debussy como o “primeiro degrau” para iniciar a base do repertório de harpa cromática, Gustave Lyon e M. Gavaert mostraram que estavam realmente sonhando alto, pois já tinham seu espaço no Conservatório de Paris e só falta um repertório com composições para alavancar a harpa cromática.

Debussy consultou a Jean Risler para pedir alguns conselhos e informações sobre o instrumento. Numa carta não publicada enviada ao professor de Bruxelas, datada de 28 de outubro de 1903, Debussy escreve: “Eu deveria escrever algo para harpa cromática, um instrumento que absolutamente não conheço”.

Finalmente, Debussy decide escrever duas danças: uma sagrada e outra profana, utilizando para a primeira o tema da Danse du voile , ou a terceira parte de uma composição do português Francisco de Lacerda, recentemente premiada no concurso Figaro e posteriormente publicada em "La Revue Musicale". Debussy dedicou-se às obras nos meses de abril e maio, ao mesmo tempo que realizava a composição das Trois chansons de France , sobre os poemas de Charles d'Orleans e Tristan l'Heremite.

A impaciência de Gavaert em querer apressadamente as peças fez com que Debussy ficasse um tanto aborrecido pois estava tudo ocorrendo no prazo. Debussy concluiu as Danças em maio, a tempo de enviar à imprensa e também colocar à disposição dos alunos de harpa cromática em Bruxelas.

A estréia em Paris no dia 6 de novembro de 1904, dirigida por Colonne e tendo como solista a harpista Lucile Wurmser-Delcourt foi um grande sucesso, embora uma minoria tenha levantado críticas.


                                                                                                                               Harpista Lucile Wurmser-Delcourt

Em 1910, a harpista Henriette Renié transcreveu as Danças para harpa de pedais e as apresentou nos Concertos ColonneEste evento representou uma derrota para os admiradores da harpa cromática, pois não conseguia de forma alguma executar os glissandos e traços enarmônicos típicos do instrumento de pedais; foi mostrado que a harpa sinfônica poderia executar o repertório cromático de Pleyel. Durand publicou esta transcrição em 1910.


Henriette Renié: o elo entre a harpa cromática e a harpa de pedais





Henriette Renié é uma figura importante para as Danças porque fez a transcrição para a harpa de duplo movimento.

A harpa de duplo movimento, naquele momento, estava envolvida numa luta travada para mostrar seu grande potencial. Nadermann, o primeiro professor de harpa do Conservatório de Paris, construiu harpas de movimento simples e preferiu ensinar nesses instrumentos do que naqueles construídos por Sèbastian Erard com movimento duplo. Fica claro que Alphonse Hasselmanss e Henriette Reniè foram importantes para o sucesso da harpa de pedais com duplo movimento.

Em 1897 Henriette tinha vinte e dois anos e a história da harpa continua, pois depois de ter ultrapassado a harpa de movimento único, Henriette foi responsável pela criação de uma nova rival: a harpa cromática.

Enquanto se preparava para tocar para o Sr. Gustave Lyon, um amigo da família, Henriette exclamou: “ Diabo de um instrumento Oh! Eu gostaria que não tivesse esses pedais! "

Lyon respondeu: " Bem, vou fazer uma harpa sem pedais ." Criou-se então uma harpa cromática, da qual Henriette Reniè nunca gostou por "não ter som".

Naquele momento Erard começou a se preocupar com os esforços de Pleyel em promover a harpa cromática, então organizou um estande na Feira Mundial de Bruxelas e convidou Henriette Renié para representá-lo.

Foi uma situação desagradável, porque ela tinha que ficar uma ou duas horas por dia no estande de Erard, tentando fazer com que as pessoas que passavam a ouvissem tocando este instrumento. Renié foi colocada ao lado do estande de Pleyel onde Edourard Risler, seu harpista, teve que demonstrar as vantagens da nova harpa cromática, nas mesmas condições. Como rivais, eles se olhavam de suas respectivas posições. Risler, que não queria enfrentar diretamente, teve o cuidado de não tocar harpa enquanto Renié estivesse na feira.

Um dia Henriette teve uma ideia: ela fez um pequeno truque com a ajuda de um de seus alunos. Tocou a harpa Erard e fingiu estar indo embora da feira. O aluno da Renié passou  pela harpa cromática e perguntou se ela podia ser ouvida. Encantado com a proposta, Risler começou a tocar, mas seu momento de glória foi imediatamente interrompido no momento em que a ressonância potente de uma harpa Erard estava tomando conta do ambiente.

E então iniciou-se o declínio das harpas cromáticas Pleyel!





Texto adaptado por Júlio Holanda

Texto original "A harpa na Música de Claude Debussy" por Eleonora Pellegrini 

Dissertação de Segundo Nível Superior do Conservatório de Música "Arrigo Boito"

Ano Letivo 2011/2012 

Orientadora: Profª. Emanuela Degli Esposti










Fontes

Encyclopedia of Music, Garzanti Editore, 1998. ANNIE GLATTAUER, Dictionnaire du repertoire de la harpe, edições Cnrs, Paris, 2003


http://www.associazioneitalianarpa.it/larpa-nella-musica-di-claude-debussy/

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