A Saúde dos Harpistas


       A fisioterapia para músicos ganhou importância a alguns anos, desde que vários músicos famosos começaram a falar publicamente sobre seus problemas de saúde decorrente a sua vida profissional.  Mais e mais músicos estão prestando atenção a seus corpos, e estão à procura de ajuda médica. Coralie Cousin's é uma fisioterapeuta interessada no assunto, desenvolve pesquisas e estudos sobre a saúde de harpistas e outros músicos, juntamente com a  Isabelle Perrin, professora de harpa na École Normale de Musique de Paris conheceu as técnicas peculiares da harpa.


Existem Doenças específicas para os harpistas?

A harpa é um instrumento muito físico. Os pés do harpista trabalham sete pedais, as mãos com quarenta e sete cordas e o instrumento pende sobre o lado direito do corpo. Antes de discutir as lesões, deve ser entendido que o aparelho necessita de todo o corpo.
 Boa postura é indispensável e é uma das medidas preventivas. Os movimentos repetitivos podem causar traumas no tecido muscular. Os movimentos de um harpista deve ser tão livres quanto possível, permanecendo no espaço imediatamente ao redor do instrumento.
 Oito de dez harpistas tendem a ter dor na coluna espinhal superior do pescoço e nos ombros, predominantemente no lado direito do corpo, resultado de  intensas exigências do repertório, particularmente no registro alto extremamente cansativo.


O segredo para uma boa postura é encontrada em quatro pontos do corpo, que são muitas vezes a fonte de problemas musculares e esqueléticas.

1...A cabeça deve descansar em um eixo que é a continuação da coluna vertebral. Ela não deve ser empurrada para a frente. Deve ser livre, a fim de facilitar a procura à direita para as cordas e à esquerda em direção as partituras e, em um cenário orquestral, ao maestro. As orelhas devem ser livres para ouvir. Assim, é importante que o instrumento não esteja muito próximo ao ouvido.

2...O instrumento deve descansar em contato com o ombro direito, mas não com todo o seu peso, o que poderia provocar afundamento do ombro direito. O ombro teria uma tendência para deslizar para baixo e para trás ou, pelo contrário, para rolar para frente criando um grande parte traseira arredondada. Isso iria comprometer a flexibilidade do sistema omoplata. Eles já não seria capazes de deslizar ao longo da caixa torácica e não iria continuar a apoiar os braços. O ombro direito é muitas vezes doloroso, e a tensão muscular está baseado na medula espinhal. A harpa deve, portanto, descansar na parte interna do joelho e não sobre o ombro direito.





@Illustrations C. Cousin




Postura Correta

Aqui a harpa já não repousa sobre os ombros porque  está se  usando os joelhos para apoiar o instrumento. Harpa bem posicionada contra o ombro, a pelve fica estável. Esta harpista da gravura se sente confortável, ela encontrou um bom equilíbrio.

Postura Errada

O harpista é posto fora de equilíbrio pelo peso do instrumento a ser aplicado em seu ombro. A harpa está muito perto do rosto. A harpa está inclinando-se fortemente no ombro direito. Muito peso colocado no lado esquerdo da pelve. Esta harpista está desconfortável.


3...O pulso não deve empurrar o tampo harmônico; ele deve estar simplesmente em contato com a superfície. Caso contrário, o cotovelo terá uma tendência a trabalhar em um estado de fadiga. Dor de cotovelo direito é bastante freqüente.

4...O equilíbrio da mão é complexo, especialmente o dedo polegar. Ele funciona não só em oposição aos outros dedos, mas também em sinergia.
O polegar deve ser bem colocado e dissociado dos dedos. Ele tem sua própria estrutura muscular. A oposição do polegar garante o alargamento do arco da palma da mão, e vice-versa. Infelizmente, a não utilização do dedo mínimo não facilita o equilíbrio dos dedos.



Regra de ouro: A harpa devem se ajustar a você, e não você para a harpa!

É indispensável levar o seu tempo, concentrar-se na postura, e não correr para o instrumento.
Uma vez que o corpo foi posicionado, e não antes, puxe o instrumento na sua direção. Então, considere a inclinação da harpa e do novo espaço de trabalho, bem como o seu espaço em relação a outros músicos, se esse for o caso.
Quando o desenho do instrumento em direção a si mesmo, antes de jogar, nunca se esqueça de pensar da pelve. É a base de estabilidade. Primeiro, os pontos de pressão da pélvis deve ser estável e, em seguida, procurar a elasticidade dentro do espaço do instrumento.
Deve haver uma relação harmoniosa entre a  harpa, o ombro direito, e o apoio dos joelhos. A cabeça e os braços devem estar livres.

Sempre mantenha a postura correta em mente quando realizar aquecimento ou exercícios de técnica; em seguida, quando você começa a tocar precisa se concentrar na música e no seu trabalho, aí você pode parar de pensar sobre a postura. Se você notar, no entanto, que você está começando a desleixar, é melhor parar do que para continuar tocando com má postura. Quando você sentir que seu corpo está se tornando cansado e dolorido, não ignorá-lo! pare e descanse alguns instantes!

A boa postura nunca é parada, imóvel; deve ser entendido que é o movimento contínuo de pontos de pressão no interior do corpo. O harpista deve, portanto, encontrar um centro de equilíbrio com o instrumento, bem como seus pontos pessoais de pressão, a fim de formar o equilíbrio, sem tensão. Para mim, encontrar as sensações corporais corretas é o ponto de partida para uma postura correta.
É verdade que o som não está diretamente produzida através da respiração como é com cantores ou instrumentistas de sopro. Para inalar corretamente, no entanto, contribuem para o relaxamento dos músculos. A respiração também apresenta dificuldades no momento da execução de peças.

Texto adaptado do site:
http://www.physiotherapy-for-musicians.com/physiotherapist-musicians/physiotherapist-musicians-pages/harp.html#header





A Ergonomia a favor dos músicos (modo geral) 

                                                                   por Júlio Holanda Téc. Segurança do Trabalho


         A música é, para o ouvinte, uma expressão de arte relacionada ao prazer, relaxamento e lazer que encanta pela harmonia da combinação de sons e ritmos. A plateia se fascina com a harmonia consequente do resultado de palco, entretanto, a maioria do público dificilmente está consciente das exigências que esta atividade impõe àqueles que a ela se dedicam. Nesta perspectiva, a performance musical implica que o músico tenha uma grande habilidade, velocidade, precisão e resistência e, também implica em um controle, muitas vezes máximo, neuromuscular.

            Este esforço físico e mental a que o músico é exposto para tocar um instrumento dependerá do tipo do instrumento, da duração da execução, da complexidade da obra executada, das condições psicológicas e da resistência muscular individual durante a atividade. Vários autores em suas pesquisas comparam as atividades exercidas por estes profissionais à dos atletas.

            As demandas profissionais estão relacionadas ao contexto produtivo em que o músico se encontra, tais aspectos como:

  •          da organização do trabalho
  •          das exigências de produtividade
  •    de cognição (disciplina, memorização, concentração, raciocínio, percepção, criatividade, rápidas tomadas de decisões, musicalidade, expressão corporal)
  •          os exercícios psicomotores complexos 
  •          a discriminação auditiva apurada,
  •          a força e postura corporal
  •          os movimentos repetitivos


              Se constituem fatores de risco para o adoecimento dos músicos.
Os autores Blum e Ahlers (1994) e Norris (1997) apontam algumas problemáticas da profissão que também predispõem ao adoecimento, como:
  •        o tempo excessivo de dedicação ao instrumento
  •        falta de condicionamento físico
  •      hábitos incorretos na prática do instrumento (não realização de alongamentos e aquecimentos, as posturas adotadas)
  •       questões técnicas do instrumento (realização de força excessiva)
  •        a troca do instrumento, seu tamanho e peso.
  •    as condições ambientais (como quantidade insuficiente de iluminamento, a temperatura)
  •       as características do mobiliário (uso de cadeiras que não contemplam as diferenças individuais)




Neste trabalho abordaremos apenas os problemas musculoesqueléticos nos músicos, pois a ergonomia se ampliaria apontando também várias outras doenças, como as que afetam o psicológico.

                                                          




O adoecimento do sistema musculoesquelético dos músicos


Os Fatores Predisponentes

As atividades repetitivas diárias e rotineiras, atividades por sua vez necessárias para um bom desempenho técnico do músico, são também consideradas um fator predisponente que produz um efeito de tensão acumulativo nos tecidos, excedendo o limiar de tolerância fisiológica podendo produzir incapacidades.

       Conforme estudos, os fatores predisponentes podem ser agrupados em:

1) Fatores individuais intrínsecos, como condição física inadequada, variações
anatômicas, sexo, lesões prévias reabilitadas inadequadamente ou não reabilitadas;

2) Fatores relacionados à atividade como hábitos de prática errôneos, erro na técnica, posturas inadequadas, escolha do instrumento e do repertorio, qualidade do instrumento, súbito aumento de ensaios;

3) Fatores ambientais como mobiliário

4) Fatores relacionados à atividade não musical estressante

       Assim, os músicos profissionais podem ser afetados por lesões que apresentam-se sob diferentes formas clínicas como as afecções musculoesqueléticas, as compressões de nervos periféricos e a distonia focal.


Síndrome do uso excessivo (SUE)

        A síndrome do uso excessivo (SUE) ou superuso pode ser definida como sinais e sintomas associados a uma aparente lesão ocasionada pela exposição de estruturas a uma carga que excede seu limite fisiológico.

    Os tecidos mais comumente atingidos são as unidades músculo-tendão; as articulações e/ou os ligamentos. Esta síndrome constitui um complexo de sintomas causados pelo excesso de atividade e de uso das estruturas. Alguns autores incluem as compressões nervosas como pertencentes a este grupo, pois estas poderiam simular sintomas das lesões musculoesqueléticas ou ainda estar associada ou ser originada por estas lesões, porém há discordância neste aspecto. Esta síndrome apresenta uma maior prevalência em mulheres.
      Quanto ao local, esta pode atingir mão, punho e antebraço, cotovelo, ombro e pescoço ou ser difuso pelo braço. A localização está associada em parte pela demanda física de cada instrumento. Pode ser encontrada entre os instrumentistas como pianistas, tecladistas, guitarristas, instrumentistas de cordas, entretanto cada instrumento pode ser responsável por lesões em específicas na unidade músculo-tendão. Estas síndromes podem ocorrer em qualquer articulação ou estrutura que sofra sobrecarga. O sintoma da SUE mais frequentemente observado é a dor, podendo estar associada à fraqueza muscular, à depressão à redução da habilidade, à fadiga e à com uma compressão nervosa, apesar das alterações sensitivas estarem tipicamente ausentes. Os sintomas exacerbam durante a execução do instrumento, com o aumento do tempo e intensidade de ensaio.


          Síndromes Compressivas dos Nervos Periféricos
            As síndromes compressivas dos nervos periféricos constituem um complexo de sintomas relacionados à compressão dos nervos periféricos em seus respectivos trajetos. Esta compressão é considerada, por alguns autores, como uma forma de SUE e que uma das causas seriam o uso excessivo pela hipertrofia muscular ou tendinite.

                O aumento de pressão sobre o nervo pode ser provocado por compressão direta ou indireta pelos tecidos adjacentes. As causas da pressão podem estar associadas aos movimentos repetitivos que podem ocasionar hipertrofia muscular local e irritação dos tecidos.

               As síndromes compressivas são observadas entre 10% e 30% dos instrumentistas especialmente flautistas, pianistas, guitarristas, violinistas e dentre outros instrumentistas de corda, possivelmente em função de estes instrumentos solicitarem a manutenção de posições sustentadas por longo período de hiperflexão do cotovelo ou hiperflexão e desvio de punhos.

                A lesão do nervo por compressão, em geral, é reversível, entretanto, uma evolução crônica decorrente de tratamentos inadequados ou decorrentes do retorno do indivíduo à atividade sem reabilitação completa pode piorar o prognóstico.

                As neuropatias de membros inferiores são pouco frequentes entre os músicos, porém, há relatos de casos isolados de neuropatia do nervo safeno interno em instrumentistas de viola da gamba, em decorrência da sustentação firme do instrumento pela coxa. Pesquisas também relatam as neuropatias dos nervos cranianos que podem aparecer em instrumentistas de sopro, como oboístas e trombonistas, os ramos do labial superior e mentoniano do nervo trigêmeo podem ser comprimidos diretamente pelo bocal do instrumento ou pela alta pressão intra-oral gerada ao tocar notas agudas podendo ainda ocorrer paralisia temporária do palato mole pela pressão elevada na cavidade oral,  da faringe.



       Distonia Focal

                     Distonia focal é um termo usado para denominar as desordens do controle motor que se caracterizam por atingir grupos musculares restritos e que aparecem somente em determinadas ações, ela não está relacionada exclusivamente a profissão, porém, quando a distonia ocorre em função da atividade profissional é denominada distonia ocupacional. A distonia ocupacional caracteriza-se por movimentos e posturas distônicas que ocorrem em função de uma ação específica geralmente relacionada à atividade laboral, elas podem acometer diferentes categorias profissionais tais como, os digitadores, os pianistas, os instrumentistas de sopro, dentre outras.
           Os movimentos distônicos são definidos como contrações prolongadas que têm tipicamente a natureza de uma torção e geralmente aumentam no decorrer
      da atividade. As posturas distônicas são definidas por alterações posturais bizarras provenientes da estabilização do segmento em uma postura imóvel podendo permanecer por período prolongado. Nos casos mais graves, pode ocorrer a distonia de repouso, onde os movimentos distônicos tendem a se intensificar com a fadiga, o estresse, e ou outros fatores emocionais.

                 As estatísticas da prevalência das distonias ocupacionais se mostraram altas em músicos variando de 9% a 14%, sendo o sexo masculino o mais acometido na faixa etária em torno de 35 anos. Os instrumentistas mais afetados foram os tecladistas e pianistas, seguidos dos instrumentistas de cordas. Os músicos profissionais são mais susceptíveis a desenvolver este tipo de desordem motora que envolve a perda de controle de movimentos digitais individuais e frequentemente inabilidade profissional e, na maioria das vezes, está associada a atividades ocupacionais que requerem movimentos repetitivos da mão.
      Os instrumentistas que se utilizam continuadamente os membros inferiores podem também desenvolver distonias nestes segmentos corporais, a exemplo dos harpistas.



                    

                                         




                                     


                                             

                                       
                                         







                                         

                                   

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